sábado, outubro 29, 2005
quinta-feira, outubro 27, 2005
A tolerância demoníaca
quarta-feira, outubro 26, 2005
quinta-feira, outubro 20, 2005
Os niilistas e suas palavras
Talvez ajudasse — o conselho é de Schopenhauer — caso se dedicassem ao aprendizado de línguas estrangeiras. E eu acrescento: geometria, meus filhos! Línguas estrangeiras ajudam a aprender a separar as palavras dos conceitos que elas representam; a geometria, a compreender a consistência intrínseca de um conceito; e aqueles que de ambas as operações não são capazes se encontram prestes a acreditarem que o fato de gritarem a plenos pulmões alguma coisa como ‘eu concebo um círculo quadrado!’ seja o bastante para que estejam a conceber algo.
O exorcismo, nesse caso, consiste em mostrar ao possesso que não obstante possa juntar palavras tanto quanto lhe apraza, não pode fazê-lo com conceitos. Não importa a quantidade da pirraça: que ele esperneie, grite, urre, arranque os cabelos, role pelo chão, chore, gema, repita a noite inteira e faça os amigos repetirem, e faça mesmo o mundo inteiro repeti-lo, e nisso acreditar, e que pessoas se matem por essas quimeras — o conceito do círculo continuará pela eternidade incompatível com o conceito do quadrado, ouvidos moucos para toda essa falta de compostura, não importa quantas vezes lhes mudem os nomes ou os declarem unidos. Words, words, words.
O mesmo vale com a verdade. O plural da palavra é truque simples da nossa gramática; o plural do conceito, uma quimera.
Um niilista é um moço endemoninhado que vos fala como que de círculos quadrados.
Os que escrevem com palavras
segunda-feira, outubro 17, 2005
Do Horário de Verão
Os dias amanhecem mais cedo no verão. As noites são menores. O ar é mais quente, as pessoas mais rápidas, os sorrisos mais estúpidos, os cardápios são mais leves no verão.
O verão é o tempo dos maricas.
O auto-elogio da estultícia
É
— É
A
sexta-feira, outubro 14, 2005
Por que ler os clássicos?
quinta-feira, outubro 13, 2005
Blablablices
domingo, outubro 09, 2005
Effectûs cognitio à cognitione causae dependet, & eandem involvit
Se
—
Respirai
— Responda-me,
sexta-feira, outubro 07, 2005
Das traduções
Uma má
O
Uma má
quinta-feira, outubro 06, 2005
Heimweh
Fazer-se em casa por toda parte, primitivo impulso de colonização, tornar o outro parte do mesmo, em uma idéia: dom(us)-esticar. Por essa razão Odisseu é o padroeiro de todos os filósofos, o mais eloqüente ícone disso que é ou foi a Filosofia. O impulso de ir além sendo norteado pela saudade da pátria. Um dia o viajante chega em casa, retorna à mesmidade, mas ele próprio já não é mais totalmente o mesmo, pois se alterou junto à alteridade que domesticou. Seu regresso torna a casa mais rica, repleta de experiências outras que coletou, que iluminam e alteram a mesmidade. Para tanto, contudo, é preciso infidelidade para consigo; em algum grau, esquecimento de si.
Em contexto totalmente diverso, Goethe disse substancialmente a mesma verdade: aquele que não conhece línguas estrangeiras, não conhece nem mesmo a própria língua. É isso: a estrangeiridade é a mediação necessária, o espelho negativo no qual Calvino disse que o viajante reconhecia o pouco que era seu descobrindo o muito que não tivera e que não teria.
domingo, outubro 02, 2005
La momia de la filosofia
"La
Pero si alguien es hoy capaz de hacer una filosofia, de filosofar en ese único auténtico sentido, esto es, dicho concretamente, sin ocultación, sin atenuamiento, se es capaz de filosofando con el mayor rigor hacer llorar, y hacer reir y hacer estremecerse alos oyentes, no por capricho, no por artificio, pura y simple, y rigorosa y exclusivamente filosofando ¿qué se diría de él? ¿Qué cara pondrían las gentes? ¿Qué extrañeza no sentirían y qué espanto y que risa, viendo que de pronto, la momia, el ridículo esqueleto que se enseñaba en las cátedras y que ‘no iba con nosotros’ comenzaba a moverse de verdad y a mirar y a ver y hacer ver y a decir, decires terribles, decires dramáticos, decires joviales que se apoderaban de nosotros, que nos poseían como posee a cada cual su propria y personal vida, por tanto que casi desde el primer instante entraba en nosotros con violencia a la vez dolorosa y deliciosa y se quedaba allí, dentro de nosotros, para simpre — es decir, que cada día la filosofia, al concluir la lección, no se quedaba en la cátedra, como un ave disecada en el museo de historia natural, sino que ‘iba con nosotros’?"
Ortega y Gasset