Descaminhos: maio 2007

quarta-feira, maio 30, 2007

A desventura dos batismos

O bom nome deve dar a conhecer a coisa nomeada; mas o que é esse conhecer? As descrições sempre padecem de uma tensão fundamental entre o impulso analítico e o genético: aquele, ávido por diferenciações, tenta fazer justiça a todas elas, mas acaba eclipsando o que há de essencial; esse, por outro lado, precisa deixa escapar algumas nuances e, sob o olhar do analítico, tornou-se até mesmo grosseiro, mas, com suas desajeitadas generalizações e metonímias, põe em jogo a radicalidade da questão.
Se por um lado a enumeração extensiva de propriedades não faz surgir a essência do definido, por outro a indicação da raiz é facilmente ignorada pelo glutão que se perde na admiração dos exuberantes e inumeráveis frutos, de variadas tonalidades, dimensões, texturas, aromas e sabores. O glutão deixa de enxergar a árvore tão logo embrenhe seu focinho nos galhos a devorar a diversidade dos frutos, pois se esqueceu de que as diferenças só podem ser especificadoras quando se reconduzem a gêneros próximos. Somente a generalidade do gênero enraíza e radicaliza a especificidade das diferenças. Sem o lastro genético, as propriedades não indicam nada de essencial: apenas mascaram-no.