Descaminhos: março 2011

sábado, março 26, 2011

Carême dixit

A pâtisserie poderia ensinar à hermenêutica que a consistência a ser buscada não deveria ser considerada um fim em si mesmo, mas sim um artifício estratégico a serviço de algo maior. O que não quer dizer, é claro, que seja algo dispensável: ai daquele que for obrigado a sorver uma mousse já liquefeita! Ninguém espera, contudo, que as mousses sejam consumíveis para sempre. Por empenhado que esteja na nobre aventura de conquistar o mais perfeito ponto de uma massa, jamais ocorreria nem mesmo ao mais desvairado maître pâtissier sacrificar o sabor no altar da consistência ou a buscar uma massa imperecível, sob pena de se encontrar de repente transformado em algo perigosamente próximo de um mestre de obras.
Boas interpretações haveriam de ser consistentes como boas mousses.