Da Transparência
Não é beleza que falta à assim chamada arte popular. Tampouco sensibilidade, ternura, empatia — quaisquer que sejam as acepções mais ou menos imediatas por que esses termos sejam compreendidos. Também não se trata de recusar a esses objetos o poder de evocar deleitação estética, algum grau de satisfação ou agitação espiritual. Trata-se do excesso de transparência, e da conseqüente falta de promessa.
É como aquela moça que entra no café em que estamos, suas formas são lindas, seus traços delicados. Os cabelos podem escorrer macios pelos ombros, o caminhar erótico sobre os saltos, um vestido bonito revela as pernas macias, o decote atrai o olhar, talvez tenha aquele perfume de água e sabonete e, com tudo isso, talvez até nos arranque um sorriso e torça-nos o pescoço com algum resquício de discrição, mas não nos fará levantar e ousar um diálogo. Pois seus olhos são transparentes, sua alma é diáfana. Nós a fitamos e a atravessamos sem qualquer refração. E como que sem querer, com o peso da inevitabilidade das desgraças, nós sabemos, com ou sem consciência disso, de que já conhecemos o lugar de onde viriam todos os seus pensamentos e palavras. Sabemos já demais para que alguma promessa possa ser feita. Ela pode nos sorrir, e com isso nos trazer os vapores de uma ébria alegria, um agitar no corpo e no espírito, mas seu sorriso é transparente e nada promete: ele nasce e morre ali, na superfície dos seus lábios.
É como aquela moça que entra no café em que estamos, suas formas são lindas, seus traços delicados. Os cabelos podem escorrer macios pelos ombros, o caminhar erótico sobre os saltos, um vestido bonito revela as pernas macias, o decote atrai o olhar, talvez tenha aquele perfume de água e sabonete e, com tudo isso, talvez até nos arranque um sorriso e torça-nos o pescoço com algum resquício de discrição, mas não nos fará levantar e ousar um diálogo. Pois seus olhos são transparentes, sua alma é diáfana. Nós a fitamos e a atravessamos sem qualquer refração. E como que sem querer, com o peso da inevitabilidade das desgraças, nós sabemos, com ou sem consciência disso, de que já conhecemos o lugar de onde viriam todos os seus pensamentos e palavras. Sabemos já demais para que alguma promessa possa ser feita. Ela pode nos sorrir, e com isso nos trazer os vapores de uma ébria alegria, um agitar no corpo e no espírito, mas seu sorriso é transparente e nada promete: ele nasce e morre ali, na superfície dos seus lábios.