Descaminhos: To see a World in a Grain of Sand...

segunda-feira, junho 12, 2006

To see a World in a Grain of Sand...

A miséria também pode ser descrita por essa confusão que insiste em pensar eternidade em termos de tempo, como uma duração infinita, série temporal maximamente extensa, cadeia de instantes que se devoram uns aos outros ridicularizando como vão tudo que se esboce em algum ponto da linha infinita. Essa duração infinita depende de um infinito que a sustente e no qual o finito que somos possa, de alguma forma, tomar parte. Decerto não um mero infinito numérico, que se confundiria já com a própria ilimitada série de instantes que está a reivindicar um suporte, mas a necessidade que emana de um infinito atual que desse à série de instantes famintos um suporte e fundamento. Os deuses já foram esse suporte infinito e nossa convivência com eles era a chave da comunhão com a experiência do eterno. O eterno, contudo, nunca foi o abarcar dessa duração infinita, mas apenas a participação naquilo que era seu fundamento.
Quando a chave é perdida o resultado é claro: a vanidade invade o mundo como um fungo que vai minando o sentido de toda existência, o homem se torna – com suas idéias, afetos, e ações – uma “besta sadia”, um “cadáver adiado que procria”, pois o infinito numérico dessa duração obviamente não pode ser agarrado por uma existência finita, e nada do que acontecesse pelo meio do caminho teria ainda algum sentido. Tudo se esvai e se nega; uma certa ironia se salva enquanto uma nebulosa reivindicação de sentido ainda bruxuleia num recanto da alma humana, mas mesmo essa ironia se dissolve tão logo se volte para si e aquela reivindicação seja de vez silenciada. Poucos são os passos que levam do barroco ao nihilismo. E ainda assim se continua a pensar eternidade como tempo infinito em vez de ligá-la à necessidade.
O que importa, o que sempre importou, é a experiência da eternidade - não como a série cronológica infinita e fugaz de instantes que se devoram uns aos outros, principalmente quando desse Cronos nenhum Zeus é prometido - mas sim como a experiência da necessidade radical, que rasga essa série infinita e por nós inapreensível e se desloca para uma outra esfera, onde tempo não é mais questão.
Duratio est indefinita existendi continuatio, per aeternitatem intelligo ipsam existentiam, quatenus ex sola rei aeternae definitione necessario sequi concipitur, tempo como mera medida da duração, eternidade como identidade entre essência e existência: foram as preciosas lições de Spinoza que entraram para os subsolos de uma Modernidade revolucionária que seguiu um caminho bem diferente, apostando no tempo como realizador da natureza e escada da redenção.

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Ola! :-)
E a primeira vez que deixo um comentario aqui - e gostaria de te cumprimentar por colocar disponiveis aqui textos tao inspiradores, que induzem o leitor a pensar e refletir. Nao so os textos sao profundos, mas tambem escritos de uma maneira linda e muito especial.
Parabens!! xx

14 de jun. de 2006, 10:23:00  
Anonymous Anônimo disse...

Não dá! Vc sabe que não dá! Essa sua eternidade produziu o inferno. Duração infinita ou ausência de duração nada mais são do que farinha do mesmo saco.

14 de jun. de 2006, 13:04:00  
Anonymous Anônimo disse...

Dá! Você sabe que dá! Essa eternidade produziu uma das primeiras visões, após Jesus Cristo, do caminho para o divino.

Sucessão temporal infinita é completamente diferente da eternidade. Estamos falando de ponto de vista, um da natureza naturada e outra da naturante. Não existe uma fora da outra, só aí cabe a expressão, com todas as ponderações, "farinha do mesmo saco". Porém as idéias adequadas somente estão no ponto de vista da naturante.

As idéias adequadas são aquelas que partem de Deus ao homem (no caso); As inadequadas do homem para Deus; (citei o homem apenas como exemplo).

13 de jun. de 2007, 19:45:00  

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