A astúcia dos afásicos
Há fundamentalmente duas funções que um título exerce: ou bem é um prelúdio, ou bem um contraponto.
O primeiro, instalada uma distância intransponível entre si mesmo e o texto, procura falar de um não-lugar. Sua missão é antecipar o que está por vir quase como se não fizesse parte de todo o espetáculo, como se fosse um olho desavisado de um deus onisciente que, meio que por acaso, tivesse tombado desde sua perspectiva eterna sobre aquele fragmento de pensamento e, até com certa displicência, deixasse escapar para os mortais uma antecipação do que estaria por vir.
O segundo rompe a linearidade e fala de um antes que já deve ser um depois. Seu lugar é o durante. Como o contraponto de uma sonata, abre um jogo com o texto e procura torcer a vista do leitor. Ele sabe que o texto não dá conta daquilo que quer agarrar. Matreiro que é, corre a volta no campo dos sentidos e, de longe, grita para o texto: aquilo que o texto queria agarrar cai numa cilada, fica entre a gritaria do título e do texto e, se não chega a ser dito, é tocado em seu silêncio.
Na verdade, todo título – mesmo o francamente ruim - cumpre sempre as duas missões, ainda que eventualmente de forma precária.
Raro é encontrar o leitor que ouça a gritaria.
O primeiro, instalada uma distância intransponível entre si mesmo e o texto, procura falar de um não-lugar. Sua missão é antecipar o que está por vir quase como se não fizesse parte de todo o espetáculo, como se fosse um olho desavisado de um deus onisciente que, meio que por acaso, tivesse tombado desde sua perspectiva eterna sobre aquele fragmento de pensamento e, até com certa displicência, deixasse escapar para os mortais uma antecipação do que estaria por vir.
O segundo rompe a linearidade e fala de um antes que já deve ser um depois. Seu lugar é o durante. Como o contraponto de uma sonata, abre um jogo com o texto e procura torcer a vista do leitor. Ele sabe que o texto não dá conta daquilo que quer agarrar. Matreiro que é, corre a volta no campo dos sentidos e, de longe, grita para o texto: aquilo que o texto queria agarrar cai numa cilada, fica entre a gritaria do título e do texto e, se não chega a ser dito, é tocado em seu silêncio.
Na verdade, todo título – mesmo o francamente ruim - cumpre sempre as duas missões, ainda que eventualmente de forma precária.
Raro é encontrar o leitor que ouça a gritaria.