Descaminhos: Alguns sonhos intranqüilos...

terça-feira, agosto 09, 2005

Alguns sonhos intranqüilos...

Certo dia um tal senhor Samsa despertou indisposto. Homens, às vezes, abrem os olhos pela manhã como se tivessem despertado de nebulosos pesadelos. E olham para o sol, e olham mais e mais, porque decidiram que precisam se esclarecer. E continuam olhando para o sol até quase queimarem as retinas, voltam-se para dentro de seus quartos, olham para um quadro e mal percebem a moldura. Ai daquele que tentar ler um poema logo depois de olhar para o sol!
Um dia os homens passam a se achar muito importantes e iluminados e descobrem que não precisam de muita coisa que acreditavam precisar. Seus gostos mais delicados, seus autores preferidos, as guloseimas de sua infância, tudo ele acaba de descobrir como meras inutilidades. Esse homem se acha bastante forte simplesmente porque percebe agora que não precisa de Homero ou Beethoven para continuar vivendo.
Tudo o que é grande se torna apenas mais ou menos grande, relativamente grande, nem tão grande assim, não é mesmo?, e a grandeza é mais uma questão de gosto, afinal. E esse homem todo esperto e forte constata que a beleza e a profundidade são coisas absolutamente prescindíveis.
E quando esse grande homem passa a acreditar que continuaria sendo grande até mesmo em um deserto, sua existência imediatamente se torna num. O imbecil ri de sua força, sua independência e superioridade, ri sozinho no meio do silêncio de seu deserto, sem perceber que tudo o que tem na vida é areia e cactos.
Tanto mais se descobre que as coisas não são tão imprescindíveis, tanto mais a própria vida se torna algo bastante dispensável.

3 Comentários:

Blogger carolina disse...

A vida não é dispensável, não, não é. Não é.

9 de ago. de 2005, 14:02:00  
Anonymous Anônimo disse...

Gostei muito do teu blog, comentário mais clichê impossível, eu sei, mas não tenho tua capacidade de me expressar. O orkut ainda é capaz de nos fazer descobrir coisas bem interessantes.

10 de ago. de 2005, 11:42:00  
Anonymous Anônimo disse...

...Kundera também escreveu sobre isso (Kafka e a quebra de seu desejo) em Testamentos Traídos.E fica a pergunta: Quebrou-se um desejo que era de direito e, assim, abriu aos grandes olhos obscenos(Orson Wells?)do público uma genial obra literária, mas também uma vida premeditadamente discreta.Afinal, o que é certo?O que é errado?Ética e moral, qual é a da vez?:P

19 de ago. de 2005, 14:31:00  

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