Os axiomas carregam consigo uma certa ambuigüidade: ao serem expressos, já indicam a possível não evidência daquilo que pretendem postular. Isso naturalmente não faz com que deixem de ser evidentes e verdadeiros, mas é um sinal de fraqueza quando os pressupostos invisíveis começam a ser vistos. Quando um pressuposto invisível se torna concebível, racionalizável e exprimível, encontrando uma formulação que o transforma em axioma, deve-se perguntar o que se passou com os olhos para que começassem enxergar aquilo que sempre esteve lá. Não é gratuitamente que o imperceptível se torna algo concreta e obviamente percebido. O que chega a ser evidente por si é, de alguma curiosa maneira, menos evidente do que aquilo cuja evidência é tão absoluta que nem mesmo o permite ser pensado. O espírito de um tempo bem pode ser apreciado quando se observam os axiomas que esse tempo foi capaz de formular.
Notável exemplo da saúde de nossa época é a dificuldade que temos para experimentar algo como o argumento ontológico. Nós o compreendemos enquanto um raciocínio, mas somos hoje capazes de encontrar nele tantos diversos problemas que passaram despercebidos pelas mais brilhantes mentes do passado que é estranho não nos perguntarmos, a partir disso, que diabos há de errado conosco.
O argumento ontológico não faria o menor sentido sem que estivesse pressuposto que existir é mais perfeito do que não existir. Que época mágica não foi essa em que um tão robusto axioma pôde passar, em geral, praticamente invisível! Para nós, hoje, essa idéia não apenas se mostra claramente um axioma do argumento ontológico como já nem é mais algo que possa ser dito tão evidente assim...
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