Como motivar um inseto?
Se uma mosca está presa em uma garrafa e, por algum motivo, crê-se que de lá ela deve sair, ou bem ela irá para uma outra garrafa, ou bem para o grande mundo em que todas as garrafas estão contidas. Nesse último caso, o salvador da mosca precisa trabalhar com a premissa de que há um suporte último e fundamental em que todas as garrafas se apóiam. Naquele primeiro, por outro lado, o nosso herói precisa ser capaz de dizer, por algum critério real, que uma garrafa pode ser dita melhor que a outra. Tanto em um caso quanto em outro, consegue-se salvar o inseto.
Caso contrário, se as garrafas são infinitas e incomensuráveis e nenhuma imagem comum de mundo as fundamenta, nada, nada nessa já então maldita existência poderia justificar que a mosca procurasse voar para fora de sua garrafinha.
Qualquer palavra proferida, principalmente a que se vendesse como filosófica, já valeria tanto quanto um relincho.
Caso contrário, se as garrafas são infinitas e incomensuráveis e nenhuma imagem comum de mundo as fundamenta, nada, nada nessa já então maldita existência poderia justificar que a mosca procurasse voar para fora de sua garrafinha.
Qualquer palavra proferida, principalmente a que se vendesse como filosófica, já valeria tanto quanto um relincho.
3 Comentários:
É realmente uma interessante descoberta, esse Wittgenstein relinchante...
É sempre possível que uma mosca, depois de infinitas garrafas exatamente iguais, mantenha a crença absurda e improvável numa garrafa diferente.
Mais: não vai acontecer a todas as moscas, mas sempre será possível convencer algumas. É disso que vivem alguns pastores de moscas.
Além do mais, melhor que reconstuir um Wittgenstein relinchante, mais eficaz seria, mostrar o que é este "fora da garrafa" de Wittgenstein: a linguagem em seu uso comum, e em todas as atividades nela estão envolvidas. Enfim, nada mais repugnante para filósofos do Idealismo Alemão, do que este domínio pequenino e "ordinário" (que palavra reveladora!) de nossas vidas, esse domínio comum, das práticas diuturnas, cotidianas, de nosso senso comum, de nossa vida em comunidade.
Contudo, repugnância ainda não é argumento. De preferência, em filosofia, não deveríamos nos colocar a ouvir os argumentos? Não seria isso mais interessante do que nos deixarmos conduzir pelas metáforas?
Ouçamos os argumentos. Wollen wir?
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