Descaminhos: Dos relativistas

domingo, setembro 04, 2005

Dos relativistas

Um relativista, se usarmos a seriedade na hora de dizê-lo, é apenas uma abstração. Ninguém pode realizar a proeza de ser um relativista em todas as conseqüências do termo. Encontramos a limitação dessa abstração ao transpormos a idéia de um conceito geral para um sujeito empírico qualquer.
Enquanto conceito, o relativismo cria o fundamento teórico para se sustentar as maiores imbecilidades, com muitas das quais nenhum relativista concordaria. Do banal assentimento de que todo objeto tem vários lados, proposição bastante razoável cuja radicalidade é tão pequena que nem mesmo o maior dos conservadores hesitaria em concordar, o relativismo enquanto sistema conceitual leva à conclusão estapafúrdia de que todo objeto tem todos os lados.
É claro que ninguém disse isso. Uma tal assertiva não apenas viola a inteligência primitiva como invialibizaria qualquer constituição, qualquer processo vital, inviabilizaria mesmo sua própria enunciação. Ninguém disse, nem o próprio relativismo. Criaram-se, todavia, as possibilidades de dizê-lo, ou melhor dizendo, eliminaram-se as possibilidades de refutá-lo. Não no sentido de que tais conclusões passem por verdade (esse não seria o pior dos mundos possíveis), mas no sentido de que a própria idéia de "verdade" perde seu valor.
O relativismo logra remover toda a autoridade do discurso. Se todo discurso é apenas mais um discurso, e nenhum deles terá maior valor que outro, a iniciativa de dizê-lo é estuprada e aquele que fala não tem como deixar de ser visto e ver-se a si mesmo como alguém que faz o inútil: fim da ironia, resta o sarcasmo. Não existe valor onde não existe quantidade, hierarquia, autoridade e projeto. O relativismo permite a completa inutilização do mundo.
Entretanto, como já se disse, nenhum relativista concordaria com isso. Porque não há relativistas. Assim como, rigorosamente (e o advérbio aqui não é nada mais, nada menos do que tudo o que se perde), não se pode dizer de alguém que é um suicida até que esteja morto, não se pode dizer de alguém que é um relativista enquanto vive, fala, escolhe o sabor do sorvete ou se apaixona.
Quem se diz relativista é apenas alguém que ainda não se esclareceu.

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Argumento transcendental...enriquecido com maestria retórica, mas ainda assim um argumento transcendental...
that`s all

2 de jul. de 2006, 11:25:00  
Anonymous Anônimo disse...

Feyerabend num gostô naum!!
Budabariu, u cara num gostô mermo!

19 de nov. de 2007, 10:29:00  

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