Os niilistas e suas palavras
Há endemoninhados que gritam por aí, por todo lugar, que a verdade é plural. E dizem com orgulho, alvissareiros, poder-se-ia até mesmo falar: proclamam fazendo pose de ungidos. E de fato acreditam no que expressam, daí serem tão perigosos. Os endemoninhados amam o que dizem, e amam com uma tal passionalidade que sequer são capazes de desconfiar de que estão a amar meras palavras. Não vêem, em meio às paixões furiosas, que nada estão a pensar.
Talvez ajudasse — o conselho é de Schopenhauer — caso se dedicassem ao aprendizado de línguas estrangeiras. E eu acrescento: geometria, meus filhos! Línguas estrangeiras ajudam a aprender a separar as palavras dos conceitos que elas representam; a geometria, a compreender a consistência intrínseca de um conceito; e aqueles que de ambas as operações não são capazes se encontram prestes a acreditarem que o fato de gritarem a plenos pulmões alguma coisa como ‘eu concebo um círculo quadrado!’ seja o bastante para que estejam a conceber algo.
O exorcismo, nesse caso, consiste em mostrar ao possesso que não obstante possa juntar palavras tanto quanto lhe apraza, não pode fazê-lo com conceitos. Não importa a quantidade da pirraça: que ele esperneie, grite, urre, arranque os cabelos, role pelo chão, chore, gema, repita a noite inteira e faça os amigos repetirem, e faça mesmo o mundo inteiro repeti-lo, e nisso acreditar, e que pessoas se matem por essas quimeras — o conceito do círculo continuará pela eternidade incompatível com o conceito do quadrado, ouvidos moucos para toda essa falta de compostura, não importa quantas vezes lhes mudem os nomes ou os declarem unidos. Words, words, words.
O mesmo vale com a verdade. O plural da palavra é truque simples da nossa gramática; o plural do conceito, uma quimera.
Um niilista é um moço endemoninhado que vos fala como que de círculos quadrados.
Talvez ajudasse — o conselho é de Schopenhauer — caso se dedicassem ao aprendizado de línguas estrangeiras. E eu acrescento: geometria, meus filhos! Línguas estrangeiras ajudam a aprender a separar as palavras dos conceitos que elas representam; a geometria, a compreender a consistência intrínseca de um conceito; e aqueles que de ambas as operações não são capazes se encontram prestes a acreditarem que o fato de gritarem a plenos pulmões alguma coisa como ‘eu concebo um círculo quadrado!’ seja o bastante para que estejam a conceber algo.
O exorcismo, nesse caso, consiste em mostrar ao possesso que não obstante possa juntar palavras tanto quanto lhe apraza, não pode fazê-lo com conceitos. Não importa a quantidade da pirraça: que ele esperneie, grite, urre, arranque os cabelos, role pelo chão, chore, gema, repita a noite inteira e faça os amigos repetirem, e faça mesmo o mundo inteiro repeti-lo, e nisso acreditar, e que pessoas se matem por essas quimeras — o conceito do círculo continuará pela eternidade incompatível com o conceito do quadrado, ouvidos moucos para toda essa falta de compostura, não importa quantas vezes lhes mudem os nomes ou os declarem unidos. Words, words, words.
O mesmo vale com a verdade. O plural da palavra é truque simples da nossa gramática; o plural do conceito, uma quimera.
Um niilista é um moço endemoninhado que vos fala como que de círculos quadrados.
5 Comentários:
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
toda esta gente que preconiza do alto de seu ilusório orgulho vanguardista 'a espontaneidade do estilo' deveria seguir o conselho do referido filhote de Kant:"Copiar o bom é melhor que inventar o ruim".
E o pior é que, toda absurda associação ilógica de sentido sempre recebe a salvaguarda da 'licença poética'; aí somos obrigados a aguentar gente dizendo que uma 'chaleira pusilânime' é uma metáfora genial.
Abçs!
E o aprendizado de Lógica? Não é tão importante quanto Geometria?
Só o que li acima, foram meras palavras pois só criticou os niilistas.É contra o niilismo mas não diz doque é a favor.Realmente você escreve bonito, sem nada dizer.
falou, falou, e o que quizestes dizer com isso? que todos temos que acreditar que uma equação só tem uma resposta? que criticar, analisar, raciocinar e disertar conceitos que poucos discutem é ilógico? procurar pontos de vistas de um modo global ao invés de viseiras quadradas está errado? que todas as verdades são imutáveis? nem temos como afirmar de fato que todas as verdades que achamos serem verdades são verdadeiras. um niilista também pode ser culto, não é um "edemonhinado". Exemplo: Dostoiévski. mais algum argumento, para provar essa tese que niilistas generalizadamente, são loucos, sem razão e ignorantes ?
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial